Preconceito. Essa é a palavra que resume toda a trajetória de um “manicuro” até o reconhecimento profissional. A sociedade ainda não está preparada para que ambos os sexos atuem em atividades que antes eram majoritariamente feitas por um dos dois.
A primeira vista pode ser até fácil. Mas após análise criteriosa pode-se perceber o quão difícil é fazer as unhas de pessoas que você não tem intimidade. “Foi bem difícil quando eu comecei. Ninguém botava fé em mim. Ficava pensando se um dia os clientes entrariam aqui no salão e não me julgariam pelo sexo”, afirma Eduardo Freire, design de unhas (vulgo manicuro), estudante de biblioteconomia da UFPE e trabalha no salão Edelson há três anos.
A situação não foi diferente para Rafael Batista, que hoje é bolsista do curso de direito da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).“Já fui chamado de biba e de pedófila (sic), mas nunca me abalei. Minha namorada acha que é melhor assim. Ela não gosta de concorrência”, relata Batista com muito bem humorado mas não menos traumatizado por essas adversidades da vida.
A namorada de Rafael, Joana, avalia com muita naturalidade esse preconceito. Estudante de Ciências Sociais da UPE, analisa de maneira sociológica toda a conjuntura (preconceito) da população pernambucana. “Queria o quê? Estamos galgadas numa cultura machista onde o homem é quem manda. As pessoas não conseguem ver um homem fazendo coisas de mulher”, disse.
Rafael e Joana
“Principalmente no subúrbio essa profissão é muito comum. Quando existe uma vítima de preconceito no ato do trabalho, está relacionada à execução de sua atividade profissional em casa, por isso enquadramos na lei Maria da Penha, que aborda a violência doméstica contra qualquer pessoa independente do sexo”, explica a delegada da delegacia especial da mulher,Denise Valentim.
Pelo jeito ainda temos muito que melhorar enquanto pessoas convivendo e trabalhando num meio patriarcal, mas uma é coisa é certa: personagens como Eduardo e Rafael mostram como é fácil superar o preconceito e ainda driblar os devaneios da vida pernambucana machista, afinal são referências no estado.
Manicuro (Eduardo) e cabeleireiro(Joel) do salão Edelson
Gerente do salão Edelson
DIVERSIDADE - O estudante de Jornalismo Luís Charamba não esconde sua vaidade e até posa para uma foto mostrando o cuidado que tem com suas unhas. “Acho uma besteira essa coisa de profissão para homem e para mulher. Eu não tenho preconceito e já fiz minhas unhas com um homem”, analisa.
Luís Charamba - Estudante de Jornalismo
Os irmãos de Charamba também fazem as unhas. “Eles são tão tranqüilos e não ligam para a distinção de sexo, pelo menos na hora de trabalhar”, brinca. Pessoas como esses adolescentes são exemplos para uma sociedade igualitária no que diz respeito às oportunidades de trabalho. Afinal a própria tarja branca da bandeira nacional prevê isso: “ordem e progresso”.
Leandro (manicuro)